Já faz bastante tempo que a Romênia me desperta curiosidade. Todos aqueles castelos medievais maravilhosos são os culpados, mas é naquele lugar que a lenda do Conde Drácula paira sempre forte, e isso foi o que me motivou a escrever esse texto. O famoso vampiro dos cinemas, livros e imaginário popular, na verdade, foi inspirado em um conde que ficou conhecido por empalar suas vítimas antes de matá-las. Seu nome era Vlad III.
Conde Vlad III |
Vlad III era um conde e príncipe da Romênia, conhecido como Vlad III Dracula ou Vlad Tepes, que em romeno significa "Vlad empalador". Ele ganhou esse apelido porque empalava seus inimigos ou traidores ao redor de seu castelo, o que era um tanto quanto chocante.
Por incrível que pareça, Vlad era muito mais assustador que o personagem criado a partir dele. O Conde ficou mundialmente conhecido quando Bram Stoker escreveu o livro "Drácula" baseado nesse personagem histórico e, desde então, Vlad Tepes é associado ao vampiro mais popular do mundo.
Quem foi Vlad Tepes?
Vlad III Dracula nasceu na cidade de Sighisoara, Mureș, um distrito da Transilvânia, Romênia, em 1431 (é um monte de nome de distritos e condados que quando eu comecei a pesquisar me confundi muito). Seu pai era Vlad II Dracul, governador da Valáquia. Antigamente, na Idade Média, a Romênia era dividida em três principados (território governado por um príncipe): Valáquia, Transilvânia e Moldávia.
Os territórios da Romênia. Transilvânia de verde, Valáquia de azul e Moldávia de vermelho. |
Vlad III passou parte de sua infância na cidade de Sighisoara, mudando-se, anos depois, para a cidade de Târgoviste, Dâmbovița, no distrito da Valáquia, quando seu pai assumiu a liderança de todo o território. O nome Dracul provavelmente surgiu dessa região. A palavra draco, em latim, significa "dragão", o mesmo nome de uma seita religiosa que Vlad II (o pai de Vlad III) pertencia (se chamava Ordem do Dragão mesmo), e que tinha por objetivo defender a Europa cristã do antigo Império Otomano e, consequentemente, dos muçulmanos. Por conta disso, Vlad II ganhou o nome Dracul, que posteriormente foi passado para seu filho, acrescido da letra A, que em romeno antigo significa "filho de". Dracul, portanto, virou Dracula e quer dizer "filho do dragão". Mas essa palavra costuma confundir um pouco a cabeça das pessoas, porque Dracul, no idioma romeno atual, também significa 'diabo'. Então, tecnicamente, Vlad III Dracula significaria Vlad III filho do diabo, ou filho do mal. Isso tudo pode ter ajudado a aumentar a fama de morto-vivo do príncipe.
Em 1442, quando Vlad III tinha 11 anos, ele e seu irmão mais novo, Radu, foram entregues por Vlad II (que estava preso nas dependências da casa do sultão) ao sultão otomano Murad II como garantia de que Vlad II não entrasse em guerra com o Império Otomano. Dessa forma, Vlad III foi crescendo quase que como um refém em Constantinopla, aprendendo a língua e costumes locais e, dizem também, a crueldade. Possivelmente foi lá que ele aprendeu as técnicas de empalamento. Drácula ficou em Constantinopla até meados de 1448, quando descobriu que seu pai e seu irmão mais velho, Mircea, foram mortos, supostamente assassinados por nobres da Valáquia (provavelmente alguma conspiração).
Após o ocorrido, Vlad III, ainda com 17 anos, voltou para a Romênia para
recuperar o trono do pai e seu lugar de direito, o que fez em 1448. Somente Radu permaneceu com os muçulmanos. O conde foi voivoda (príncipe herdeiro na Romênia) por três vezes, tomando o poder definitivamente em 1456, onde comandou a província de Valáquia por seis anos. Foi durante esse período que Vlad III ganhou a fama de
empalador. Mas o que é isso?
Bem... a técnica de empalamento consiste em introduzir um mastro de aproximadamente três metrôs no ânus das vítimas e deixá-las ali, penduradas, para morrer. O mastro ia sendo introduzido aos poucos no corpo da vítima (ela ia "escorregando"), ou era inserido de uma vez. A tortura poderia levar horas ou até dias. Estima-se que mais de 100 mil turcos morreram dessa forma durante o reinado de Vlad III.
Bem... a técnica de empalamento consiste em introduzir um mastro de aproximadamente três metrôs no ânus das vítimas e deixá-las ali, penduradas, para morrer. O mastro ia sendo introduzido aos poucos no corpo da vítima (ela ia "escorregando"), ou era inserido de uma vez. A tortura poderia levar horas ou até dias. Estima-se que mais de 100 mil turcos morreram dessa forma durante o reinado de Vlad III.
Empalamento. Cena retirada do filme "Drácula - a história nunca contada" (Drácula Untold) de 2014. |
E a coisa não para por ai. Ele tinha prazer de jantar em frente aos corpos empalados, ouvindo os gritos de agonia das pessoas e sentindo o cheiro da morte. Algumas lendas sugerem que ele inclusive passava o sangue das vítimas no pão e comia, mas acho isso fantasioso demais pra ser verdade (se bem que vindo dele, vai saber...). Outras histórias contam que, certa vez, Vlad III deu um jantar para mendigos em um castelo e depois ateou fogo na construção, matando todos carbonizados (não se sabe o real motivo; pelo que li, Vlad Tepes acreditava que os mendigos sofreriam menos se estivessem mortos, etc.). As histórias são meio divergentes, então eu preferi não publicar todas aqui.
Sua morte ainda é incerta. Alguns dizem que ele foi traído por seu irmão mais novo, Radu; outros que teve sua cabeça decepada e empalada pelos turcos. Em muitos sites e livros que li, as informações sobre sua morte são um pouco divergentes, mas muito provavelmente Vlad Tepes teve sua cabeça decepada no campo de batalha, que foi empalada e colocada do lado de fora da moradia do imperador turco da época. Drácula morreu em Bucareste, Romênia, em 1476. Seu corpo nunca foi encontrado, mas há algumas especulações de onde ele pode ter sido enterrado. A história mais conhecida é a de que seus restos mortais estavam em uma capela na cidade de Snagov, Romênia. Porém, em meados de 1930, arqueólogos retiraram a placa que servia de sepultura e nada encontraram. Anos mais tarde um esqueleto sem cabeça foi achado na parte de trás da igreja, e de acordo com pesquisas, suas vestes remetiam aos príncipes antigos da Romênia. Muito provavelmente era a ossada de Drácula, mas ainda hoje isso não foi provado. A partir daí, juntamente com o livro de Bram Stoker, a crença de que Drácula ressuscitou e ainda está por ai permanece. Várias lendas perduram pela Romênia; lá ainda é costume que as sepulturas tenham pequenas estacas em volta para que o morto não volte à vida.
Estátua de Vlad Tepes em Bucareste, Romênia |
Sobre a Transilvânia: eu sempre associava vampiros àquele local, porém eu acredito que a região só é lembrada porque foi lá que Vlad Tepes nasceu. Em minhas pesquisas não consegui achar nenhuma relação entre
vampiros e a Transilvânia, além do nascimento do homem que deu origem ao personagem mais ilustre de Bram Stoker. Até mesmo o castelo de Bran, famoso também
por conta do livro de Stoker, não foi a residência oficial do Drácula.
O Castelo de Bran que ajudou a popularizar a lenda
O castelo de Bran, localizado no vilarejo de mesmo nome em um condado na região da Transilvânia, ficou famoso principalmente por se parecer com o castelo descrito no livro de Bram Stoker, porém o verdadeiro Drácula nunca morou nesse castelo. Ele ia de vez em quando para observar os territórios, pois a fortaleza ficava nos limites entre a Valáquia (onde ele governava) e Transilvânia.
Castelo de Bran |
Na verdade, Vlad Tepes morava no Castelo Poenari, que hoje encontra-se em ruínas. O castelo está localizado à 125km de Bran, no vilarejo de Arefu, no distrito de Argeş. Para chegar até o local, que fica em
cima de uma montanha, é necessário subir cerca de 1.400 degraus, que
ficam no meio de uma floresta silenciosa e neblinada. Foi nesse castelo
que sua primeira esposa se jogou de uma das torres (o caso é
inclusive retratado no livro de Bram Stoker). Ela teria descoberto que o castelo estava cercado de turcos; dessa
forma, preferiu se jogar de uma das torres a ficar e virar escrava
deles. A morada virou local quase que obrigatório de visitação para quem vai até o país conhecer a história de Vlad Tepes. Na entrada é possível ver dois bonecos empalados, fazendo alusão às barbáries que ele fazia com suas vítimas. A entrada custa pouco, em torno de três a cinco reais convertidos.
Ruínas do Castelo Poenari |
Escadas para chegar ao Castelo Poenari |
Escadas para chegar ao Castelo Poenari Foto: Laura Bernhardt |
Castelo Poenari |
Bonecos empalados em alusão às vitimas de Vlad Tepes |
e o livro 'Drácula', de Bram Stoker?
O romance do escritor irlandês Bram Stoker teve inspiração em Vlad III e foi lançado em 1897. É o segundo livro mais publicado da história, só perdendo para a Bíblia. Bram escreveu todo o livro baseado em pesquisas que fez em bibliotecas de Londres e nunca foi à Romênia conhecer o berço da história que estava escrevendo. O mais provável é que Stoker tenha visto o nome Drácula em suas buscas, bem como fotos do castelo em algum livro e resolveu se inspirar e criar sua história a partir disso. O livro é o pioneiro quando falamos em histórias de vampiros, pois foi a partir dele que a lenda se popularizou, e é considerado um romance de ficção gótica. Vale lembrar, para quem não sabe, que chamamos de romance, dentro do mundo literário, uma
história longa, com grande narrativa dividida em capítulos, e não uma
história romântica como muita gente confunde. Eu ainda não tive oportunidade de ler o livro para dar uma opinião aqui, mas assim que eu tiver um tempo e conseguir ler, posto uma resenha contando o que achei =)
Capa da primeira edição do livro |
Posteriormente a história do livro ganhou vários filmes, alguns bons, outros não, mas o mais conhecido foi o de Francis Coppola, intitulado "Drácula de Bram Stoker", de 1992. Como eu não li o livro, não sei se a adaptação foi fiel, mas mesmo assim gostei bastante do filme.
Drácula de Bram Stoker, o filme. Sinistro, né?! |
Afinal, vampiros existem?
Isso é uma questão que eu gostaria de responder com certeza, mas como nunca foi provado, eu só posso dizer que nesse ponto sou meio agnóstica. Não acredito e nem desacredito totalmente que eles existem (os que são iguais aos filmes, por exemplo). Como não é um tema que eu estudei (preciso ler mais sobre isso), não vou me alongar aqui escrevendo coisas que não sei. Há também os vampiros de energia, que são pessoas que sugam sua energia e te deixam cansado e com sono. Já teve impressão de conversar com alguém e depois se sentir esgotado?! Então, é isso...
O que posso afirmar sobre os vampiros é que as lendas são muuuuito mais antigas que Vlad Tepes e estão espalhadas por toda a Europa, não somente na Romênia. Existem histórias que envolvem pessoas que nunca envelheciam, que tinham hábitos diferentes, etc., e isso ajudou a fomentar ainda mais a crença nesses seres. Até onde eu sei (posso estar errada) a Igreja Católica também ajudou a propagar a histeria que houve uma época por conta de vampiros. O medo era tanto que as pessoas desenterravam os corpos e enfiavam-lhes uma estaca no peito para que o morto não voltasse à vida.
Além de Vlad Tepes, Elizabeth Báthory, a Condessa de Sangue, também ficou muito conhecida quando falamos de vampiros. Ela se banhava com o sangue de suas vítimas, mulheres jovens e bonitas. Elizabeth acreditava que aquele sangue lhe dava juventude. Estima-se que mais de 600 mulheres foram mortas por essa nobre húngara. Mas isso é assunto pra outro post...
Finalizando, para quem quiser saber mais sobre o famoso Castelo de Bran, indico o site oficial do castelo, onde você acessa clicando aqui. O site tem um vídeo bem bacana mostrando o exterior e
interior do castelo. Ele é tão lindo que eu fiquei na dúvida sobre qual
foto escolher para ilustrar esse texto, então também sugiro que
vocês fucem no google para encontrar várias imagens dele. Eu fiquei apaixonada só de olhar.
E pra fechar, indico o filme Drácula de Bram Stoker, do diretor Francis Ford Coppola, baseado no livro de Stoker, e também o filme Dracula Untold (Drácula - a história nunca contada), de 2014, do diretor Gary Shore, onde quem interpreta Drácula é o ator Luke Evans. A história não é exatamente igual à do livro, mas é uma boa ficção que te prende no sofá. Pra mim é um dos melhores filmes sobre o Drácula, embora não seja fiel à obra.
Dracula Untold |
Bibliografia e filmografia consultada:
Eu pesquisei uma penca de sites, mas os que realmente ajudaram foram esses aqui:
A verdadeira história do verdadeiro Drácula - Super Interessante
http://super.abril.com.br/historia/a-verdadeira-historia-do-verdadeiro-dracula/
A verdadeira história de Drácula - O Aprendiz Verde
http://oaprendizverde.com.br/2014/07/10/a-verdadeira-historia-de-dracula/
Série grandes mistérios - Drácula e fatos reais da Tansilvânia - Record
https://www.youtube.com/watch?v=lLNIoGm28vA&t=735s
Filme "Drácula de Bram Stoker", Francis Ford Coppola, 1992.
http://super.abril.com.br/historia/a-verdadeira-historia-do-verdadeiro-dracula/
A verdadeira história de Drácula - O Aprendiz Verde
http://oaprendizverde.com.br/2014/07/10/a-verdadeira-historia-de-dracula/
Série grandes mistérios - Drácula e fatos reais da Tansilvânia - Record
https://www.youtube.com/watch?v=lLNIoGm28vA&t=735s
Filme "Drácula de Bram Stoker", Francis Ford Coppola, 1992.
oi! achei muito bom, muito objetivo, claro e elucidativo.
ResponderExcluirpretendo conhecer a romênia no final do ano e estou começando a ler um pouco a respeito...
ajudou bastante!
Oi Caesar :)
ExcluirMuito obrigada pela leitura!! Eu sempre tive vontade de ir pra Romênia também, e depois que fiz esse texto fiquei com mais vontade ainda hehehehe
Boa viagem pra você!!! Beijooos
Ótimo Post !
ResponderExcluirMuito obrigada Rafael :)
ExcluirMuito bom esse post!! Amei!! Quero muito ir pra Romênia um dia pra visitar todos esses castelos fascinantes
ResponderExcluirViviane Ferreira
Oi Viviane, muito obrigada! Fico feliz que você tenha gostado e que o texto tenha fomentado mais sua vontade de ir pra Romênia :)
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