sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Mundo Medieval: Uma experiência imersiva na Idade Média

O assunto de hoje é uma resenha sobre o evento "Mundo Medieval - O futuro do reino depende da sua presença", que ocorreu no dia 02 de Julho de 2016 no Monte Castelo Eventos, em Mauá. Com muitos amantes da Idade Média e simpatizantes vestidos a caráter, o clima do local era de uma verdadeira viagem ao tempo.


Antes de embarcar em outro século...

A princípio, quando eu soube desse evento (através do Facebook mesmo), tinha até pensado em não ir devido ao castelo ser no interior e também porque eu basicamente iria sozinha (meus amigos não são tão fãs da Era Medieval quanto eu), e isso acabou me desanimando um pouco. Acabei combinando de ir junto com minha parceira aqui do site e agora amiga, a Thais, que é estilista e proprietária da marcas de roupas medievais Elriha.

Comprei o ingresso cerca de uma semana depois e paguei aproximadamente R$ 90,00 com as taxas. No começo das vendas os ingressos custavam cerca de R$ 40,00 (eram vendidos por lotes), e como acabei comprando quase perto do dia do evento, paguei o maior valor. Havia disponível também, somente no começo das vendas, o ingresso 'Camarote Open Bar' que, como o nome já diz, dava direito a uma série de bebidas. Esse setor foi um dos primeiros a esgotar.

Os organizadores disponibilizaram vans, com saída do metrô Corinthians - Itaquera, pelo preço de R$ 40,00 ida e volta. Acredito que esse tipo de transporte facilitou muito e possibilitou também que outras pessoas pudessem ir sem preocupações com carro, trem, etc. Eu sou um exemplo disso. Se não houvesse vans, dificilmente eu iria, até porque é muito longe de onde moro e o transporte público também não facilita muito as coisas. 

Chegando ao Castelo

Os motoristas das vans foram bem educados e dirigiram com bastante cautela (só tinha curva naquela estrada), tanto na ida como na volta do evento. O castelo era bem sinalizado, com placas indicando o caminho, então acredito que quem foi de carro não se perdeu no trajeto. Havia estacionamento no local, no valor de R$ 25,00 porém algumas pessoas oportunistas fingiram trabalhar no castelo e cobraram cerca de R$ 50,00 ou até mais dos motoristas para o estacionamento dos veículos. Até onde eu soube, houve reclamação para a organização, mas esses nada fizeram (novamente, até onde eu soube).

O evento aconteceu no castelo Avalon, o maior dos três que faz parte do complexo Monte Castelo Eventos. Os outros dois, Excalibur e Rei Arthur, ficaram reservados para outros eventos (eu observei que havia ou uma festa de casamento ou uma sessão de fotos com noivos em outro castelo).

Sinalização do Castelo Avalon. Foto: Adriana Vicente

Logo quando avistei o complexo dos castelos me encantei (imaginem um castelo enorme no meio do mato, com estradas de terra e tal - era isso) e do lado de fora já tinha percebido que o castelo era imenso. Descemos da van e ficamos aguardando a liberação da entrada das pessoas que já haviam chegado e estavam esperando para entrar. 

O evento, que estava previsto para começar às 17h30, atrasou cerca de uma hora, mais ou menos. Do lado de fora, eu sentia a apreensão das pessoas para entrar e conhecer o que nos aguardava lá dentro. O cheiro da comida já se fazia presente ali, o que aguçava ainda mais nossa curiosidade e vontade de entrar logo.  Assim que a entrada foi liberada e que passei na recepção para apresentar o ingresso,  vi um grupo musical, o Navar & Friends, e logo ao lado um corredor que dava direto ao Salão Principal. Queria muito achar a chapelaria para deixar minha bolsa, mas infelizmente não havia nenhuma sinalização, placas, papéis, etc. que informassem os locais exatos do castelo, que era bem amplo e espaçoso (e quando eu digo bem amplo e espaçoso, não estou exagerando). Os seguranças também não sabiam dar essas informações. Logo de início, isso já me incomodou bastante, pois tive que ficar dando voltas no castelo para encontrar a chapelaria (poderia ter aproveitado esse tempo de outra maneira), e depois de alguns bons minutos procurando, descobri que ficava ao lado do balcão onde vendiam-se fichas para a comida e bebida do castelo. 

Salão Principal. Foto: Adilson Félix

Finalmente quando tinha descoberto o local da chapelaria, me deparei com duas filas enormes: uma para a compra de fichas, juntamente com a chapelaria (o que eu achei uma verdadeira bagunça), e outra para retirar a comida. Aproveitei para guardar a bolsa e já comprar a quantidade de fichas que usaria durante a noite para que eu não precisasse pegar a fila novamente. Chegando finalmente a minha vez de ser atendida, descubro que só tinham fichas no valor de R$ 5,00. A organização errou em ter fichas somente desse valor, visto que algumas bebidas (como água), custavam R$ 2,00. Com essa ficha, deveria haver uma espécie de troco. Muita gente teve que comprar coisas a mais além de sua vontade ou ficar sem receber a parte em dinheiro por conta disso. A organização, na página oficial do evento no facebook, disse que isso foi um erro e que na próxima edição eles prometem melhorar isso. Vamos aguardar :) 

Salão principal e filas para compra de fichas e retirada das refeições. Foto: Adriana Vicente

Saindo dessa fila, me deparei com outra: a das refeições. Nessa fila, que também estava enorme, as pessoas aguardavam para pegar os caldos e refeições disponíveis. Entre a fila para comprar as fichas e a fila para pegar o caldo, calculei mais ou menos uma hora, que é tempo demais para quem está com fome e quer visitar e conhecer outras áreas do castelo. Por acaso encontrei uma das organizadoras do evento (não lembro seu nome) que, em uma conversa informal, acabou me dizendo que eles calcularam a quantidade de comida e bebida errado. Toda a organização se preocupou tanto com as bebidas (havia bares no primeiro andar e no salão principal, bem como uma espécie de 'drink truck' na área dos jogos) que não pensaram bem na distribuição da comida e na grande demanda que possivelmente haveria (e houve). Por um erro da organização, a quantidade de comida realmente não atendeu a todos os medievalistas famintos e, no meio do evento, a comida havia acabado, o que gerou muita reclamação. 

As bebidas se dividiam em cervejas, águas, refrigerantes e hidromel, a preços que não considerei abusivos. O hidromel não estava descrito no folheto informativo distribuído no evento, então fiquei sem saber se estava sendo vendido nos bares do castelo ou em outro local.  As refeições também estavam custando um preço que considerei justo, e preciso dizer aqui também que estavam muito boas!!! Havia opções para quem era vegetariano/vegano como o "Caldo Vegano" (o nome já diz tudo), que estava ótimo!!! As outras opções de caldos, bem como as refeições, pelo que ouvi das pessoas no dia do evento, estavam ótimos também. Minha única reclamação nesse sentido foi justamente a falta de organização e a fila gigante. Fora isso, acredito que todos ficaram satisfeitos com as refeições disponíveis. A intenção da organização era justamente preparar comidas típicas e não industrializadas, para que nós tivéssemos, de fato, uma experiência imersiva na Idade Média. Parece que deu certo, pelo menos pra mim. 


Depois de comer fui, enfim, conhecer as outras áreas do castelo. Em todos os andares havia uma grande quantidade de banheiros, que estavam bastante limpos e higienizados. No primeiro andar estavam expositores vendendo produtos relacionados à temática medieval, bem como produtos artesanais voltados ao paganismo, misticismo e às mitologias nórdica e celta. Também havia corujas com seus respectivos donos expostas para que os visitantes pudessem olhá-las de perto e até tirar uma foto. Isso não me agradou muito. Embora eu tenha ficado olhando (nunca tinha visto uma coruja de perto e não sabia o quanto elas eram lindas), achei aquilo desnecessário. Não sei se o animal está acostumado a esse tipo de exposição (a luz era forte e imaginei que aquilo poderia estar incomodando). Acredito que elas são bem tratadas e criadas com responsabilidade por seus tutores (não gosto da palavra 'dono'), mas na minha cabeça não entra a ideia de espetacularização de animais, sejam eles silvestres ou não. Não acho correto, mas, enfim, cada um faz o que quer... Sinceramente achei que não havia necessidade de ter aqueles animais ali, já havia diversão e distração o suficiente. 

Os expositores, no geral, eram os mesmos que costumam vender seus produtos nos eventos medievais e esotéricos. Alguns já são bem conhecidos pelos frequentadores do meio, como a marca de roupas CosLine, as orelhas élficas da Dhy Ngetal, as estandes do Ordo Draconis Beli, roupas da Adit Medieval, pingentes/colares da Aiya e produtos vikings (como os drinking horns) da Valkyria Artes. Havia outros expositores também, mas os citados são os que geralmente estão em grande parte desses eventos. 

Soube que cada expositor pagou cerca de R$ 500,00 para expor seus produtos. Não sei ao certo se eles conseguiram recuperar o dinheiro investido, porque mesmo com uma grande quantidade de pessoas no castelo, o primeiro andar ainda me pareceu vazio, e eu não vi muita gente comprando as coisas de lá.

Ali havia mais um bar, que também estava vazio. O castelo era tão grande que era impossível lotar sequer um só local, mesmo com todos os ingressos esgotados. Da janela do primeiro andar, eu conseguia ver a enorme fila que ainda se formava para a compra de fichas e a retirada das refeições e caldos. Os bares, por incrível que pareça, estavam com pouco movimento.

Expositores. Foto: Adilson Félix

Enquanto eu estava no primeiro andar vendo as estandes e os produtos, a primeira banda da noite começava a tocar no palco do Salão Principal. A banda (que na verdade era um trio) se chamava Folkemya e tocava músicas folk típicas da Irlanda. A música era contagiante e atingia grande parte do castelo enquanto era tocada. A noite começava a ficar animada. As pessoas estavam chegando também, porque, aos poucos, o Salão Principal, bem como as outras áreas do castelo, foram sendo preenchidas por Cavaleiros Medievais, Mosqueteiros, Templários, bruxas e princesas. Preciso dizer aqui sobre os trajes adotados. Era um mais lindo que o outro e as pessoas realmente capricharam na escolha das roupas e na caracterização. Poucas pessoas estavam vestindo roupas atuais e o que se via era uma festa em um castelo medieval de verdade. Pelo menos foi assim que me senti. Eu usava um vestido medieval também, junto com uma túnica que comprei na estande da CosLine, pois estava bem frio (juntou o clima de inverno e as árvores do interior) e eu não queria perder a pompa medieval vestindo minha simples blusa :p

Entre as fantasias (se é assim que eu posso dizer) que mais me chamaram a atenção estava a do Jon Snow e Daenerys Targaryen (Game of Thrones), Elrond (O Senhor dos Anéis) e até mesmo do Ragnar Lothbrok (Vikings). Eram perfeitas!!! Muita gente ali parou para tirar foto com eles.

Foto: Adilson Felix


Foto: Adilson Félix

Ragnar Lothbrok. Foto: Adriana Vicente

Enquanto a música seguia solta, desci na área dos jogos. Lá, o clima era de verdadeira descontração. Havia uma enorme fogueira, muito bem posicionada, com pedras em volta formando um belo círculo. Ao redor da fogueira havia algumas cadeiras também, e algumas pessoas estavam sentadas para se aquecer do frio. Ao lado da fogueira encontravam-se os responsáveis pelas brincadeiras, que estavam muito animados e literalmente 'puxando' o coro para que todos participassem. A brincadeira mais engraçada, que arrancou risos não só meus, mas de grande parte das pessoas que estavam ali, era o Cabo de Guerra. Mulheres contra mulheres, homens contra homens e grupos mistos se divertiam puxando a corda de um lado para o outro, competindo entre si para ver quem ganharia. As corujas (e seus tutores) estavam em um canto ali também. O 'drink truck' ficava perto do caminho que dava acesso para essa área externa. Algumas pessoas exageraram na bebida e passaram mal, mas no geral o pessoal me pareceu tranquilo nessa parte. 

Foto: Adilson Félix

Na área externa havia também competições como Swordplay (para quem não sabe, são aquelas lutas com espadas que a gente vê de vez em quando em um parque no domingo) e vendas de espadas de plástico pelo valor de R$ 50,00. OK, achei bem caro. Ao lado, um pequeno caldeirão estava disposto no chão e o desafio era acertar pequenas pedras dentro dele para ganhar doses de hidromel. Tentei, mas não acertei nenhuma. Quanto ao hidromel, fiquei só na vontade mesmo...

Ali também estavam os integrantes do grupo Taberna Folk, muito conhecido entre os frequentadores do meio medieval (se você ainda não conhece, procure alguns vídeos no youtube), conversando amistosamente com outras pessoas. Achei aquilo diferente, porque geralmente bandas e artistas são tão inacessíveis e ali, no mesmo local que todos, os integrantes se misturavam ao público, onde permaneceram boa parte do tempo. Bruno Maia, vocalista e guitarrista da banda Tuatha de Danann, também estava presente. Novamente, achei diferente, pois a Tuatha é uma das precursoras do folk metal brasileiro e também bem famosa entre o meio pagão/medieval, e mesmo assim as pessoas agiam normalmente, sem aquela famosa abordagem de fã e tal (inclusive eu).

Do outro lado da área externa, havia arco e flecha, disponíveis para quem quisesse atirar pelo valor de R$ 5,00 a ficha. Não sei se essa ficha era particular ou se comprava no mesmo local das demais. Fiquei observando de longe, me pareceu bem difícil e desajeitado atirar com aquilo. Havia ainda brincadeiras com um martelo, para ver quem aguentava segurar por mais tempo. Enquanto observava, fiquei na fogueira para me aquecer. Dentro do castelo, outras bandas se apresentavam no Salão Principal. Perdi duas ou três que gostaria de ter visto pelo menos uma música, mas realmente a área externa estava mais atrativa para mim, pelas brincadeiras e pelo clima medieval e meio interiorano.

Arco e flecha. Foto: Adilson Félix
Voltando para dentro do Castelo, fui conhecer o segundo andar, que tinha exposições das roupas da família real Portuguesa. Gostei, mas não entendi o casamento entre um evento medieval e aquelas roupas, que me pareceram mais do século XVIII (eu posso estar enganada). Ali o rei Elengard e a Rainha assistiam todos os acontecimentos do Salão Principal. Nesse momento, enquanto outra banda tocava (não consigo me lembrar qual é, mas acredito que tenha sido a Lothloryen), teve um pedido de casamento no meio das músicas.

Voltei para a área externa, permanecendo boa parte da noite e, dessa forma, perdi as apresentações de dança do grupo Draumur. Na verdade, ao meu ver, teríamos que ter maiores informações sobre todas as atrações e os horários (estava disponível na página do facebook, mas ali não havia muitas informações), e muita gente perdeu algumas atrações por conta disso. O atraso na abertura dos portões também contribuiu para a mudança de horários que eu presenciei ali. Outra coisa que não aconteceu (eu pelo menos não fiquei sabendo) foi a apresentação do Rei no Salão Principal. Um dos slogans do evento - "O futuro do reino depende da sua presença" - , e um dos atrativos também, era justamente fazer com que nós estivéssemos em uma grande festa dada pelo rei Elengard para escolher um novo regente do reino, o que não aconteceu. Dias antes foram disponibilizadas, através do site Cena Medieval (que também é parceiro aqui do blog) partes das histórias que contavam sobre o cansaço do rei e seu filho que havia viajado para lutar, sem previsão de retorno. Dessa forma, os próprios organizadores do evento pediram para que lêssemos a história porque a terceira parte, que era a continuação e a eleição do regente, seria contada ali, com todos no salão. Isso não aconteceu.  Não sei se foi um erro da organização ou não houve tempo entre uma atração e outra. Com certeza, isso foi o que mais me desagradou. 

Só subi novamente ao Salão Principal para ver a banda Navar & Friends, composta por Alex Navar, da Tuatha de Danann, com a presença do Bruno Maia (vocalista da Tuatha) nos palcos também. Gostei bastante. Nesse instante o salão contou com diversas pessoas que faziam danças típicas da Irlanda, embaladas pelo ritmo folk da música. 

Banda Navar & Friends com Bruno Maia (Tuatha de Danann). Foto: Adilson Félix

Banda Navar & Friends com Bruno Maia (Tuatha de Danann). Foto: Adilson Félix
Após o término do grupo, finalmente a banda Taberna Folk entrou no palco. Como uma das mais aguardadas bandas (e por isso a última), a Taberna levou boa parte das pessoas a levantar de suas cadeiras e dançar. Algumas pessoas já estavam indo embora por conta do horário (já passava das duas horas da manhã), e outras já estavam cansadas (era meu caso), mas isso não impediu que a música folk contagiante da banda atraísse o restante do público para o Salão. Todos tocaram e cantaram maravilhosamente bem, como já era de se esperar, e a apresentação deixou aquela vontade de dançar a noite toda ao som da banda. Como estava tarde, a apresentação durou aproximadamente uma hora. Considerei pouco tempo. O evento terminou por volta das 03 da manhã, horário anunciado anteriormente.

Banda Taberna Folk. Foto: Adriana Vicente

Por ser meu primeiro evento totalmente medieval, confesso que gostei bastante, tanto da experiência imersiva proporcionada quanto das pessoas que conheci e conversei. Tirando essas partes ruins (é quase impossível que um evento dessa magnitude agrade 100% do público), considerei o evento muito bom e já estou na espera do próximo que, segundo a organização, não terá os mesmos erros que esse, que foi também uma espécie de teste para uma edição posterior. Em dezembro acontecerá um evento parecido, o Decembeer Folk, organizado pelos responsáveis do "Mundo Medieval", no mesmo complexo de castelos, mas dessa vez será um open bar + refeições, numa espécie de banquete medieval. Esse evento contará novamente com a presença da Taberna Folk e promete ser tão bom quanto foi o Mundo Medieval pra mim.

Para quem quiser ver mais fotos oficiais do evento, elas estão disponíveis na página do Mundo Medieval, que você confere aqui. O evento Decembeer folk também já está no facebook,  e pode ser acessado aqui para quem quiser conferir mais informações, bem como preços.

Fora todos os erros da organização, o evento foi muito bacana pra mim e eu recomendo muito, tanto para quem gosta de coisas medievais, seja em roupas, ambientes, músicas, história, etc., quanto para quem quer conhecer um evento desse porte.


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